Hoje eu vou começar a comentar aqui um pouco sobre algumas obras da arquitetura que eu acho interessantes da gente ver. Vou tentar não ser muito técnico pra não parecer chatonildo, ok? Pois bem, vamos falar de casinha?
Lina Bo Bardi foi uma arquiteta italiana radicada no Brasil que, junto com Oscar Niemeyer e Lúcio Costa foram os precursores do modernismo brasileiro. A mulher era o poder!
Talvez o projeto mais famoso dela seja o Museu de Arte de São Paulo (MASP), que é uma das obras mais ousadas do modernismo nacional. Engenharia e arquitetura andando de mãos dadas para a plenitude no mais alto nível de interação. Lindo de ver.
Mas eu escolhi a Casa de Vidro, hoje Instituto Bardi (Bardi era o sobrenome de Pietro Maria Bardi, o marido dela) pra começar nossas conversas. To pensando em priorizar casas. Acho que é uma linguagem mais próxima da gente e tem mais a ver com a atmosfera intimista desse blog tão legal. Mas ainda não sei… Deixa rolar.
A casa! Que casa!
No meio da Mata Atlântica tem uma casa.
A residência de Lina e Pietro foi construída no bairro do Morumbi em São Paulo, num terreno de sete mil metros quadrados localizado numa área cercada pela floresta. Erguida ao longo de três anos, no início dos anos de 1950, seria a residência do casal. A Casa de Vidro brota elegantemente do meio das copas das árvores.
Sem dúvida, o que eu mais gosto nessa casa (e nos outros projetos modernos desse período) é o caráter “permanente” da obra. Na época, ao contrário de hoje, para os bons arquitetos não existia “moda”, existia “busca”. O objetivo dos projetistas, mesmo quando seguiam tendências internacionais, era criar escolas de arquitetura, erguer edifícios que tivessem uma simbologia que durasse enquanto a própria obra existisse. Olhavam sempre pra frente. Sem imaginar que depois de dois anos teriam que trocar algum revestimento por outro que estivesse “em alta”.
Reparem na transparência dessa sala. Na amplitude.
Os prédios tinham personalidade e cada arquiteto conseguia impor sua marca particular em cada um deles. Havia uma unidade quanto conceito arquitetônico, mas nunca uma formal. Por isso o modernismo brasileiro é tão importante no mundo. Porque tinha cara de Brasil! Tanto que, ainda hoje, qualquer arquiteto que tenha o mínimo de talento bebe dessa fonte.
Mas voltando à linda casa da Lina… A estrutura foi erguida sobre tubos de aço acima do solo, que além de ser uma mão na roda pro conforto térmico, permitem o fluxo das águas da chuva e deixam a casa com um visual mais leve. Esse esquema que construção permite uma integração entre interior e exterior, paisagem e morada perfeito.
Um minuto de silêncio pra quem não tem uma sala dessas…
Eu sou apaixonado por essa decoração! Cheia de objetos exóticos que os dois colecionavam de suas viagens e a mobília quase toda desenhada pela própria Lina.
E esse piso pastilhado de vidrotil azul? Deve dar pena até de pisar nele…
Qualquer solução paisagística de integração entre casa e natureza tem meu apoio total, ainda mais quando se busca preservar o que já existe. Essas soluções de criar jardins internos e essas árvores que atravessam os ambientes são sempre muito felizes. Detalhe: Burle Marx (é, o mesmo que fez o jardim do Rio Poty Hotel) foi o responsável pelo paisagismo. /todasinveja
Acho MUITO charmoso esses pilares aparecendo dentro da sala.
Muitas vezes, Lina se mostrou “contra corrente”, em seus projetos frequentemente abria mão do minimalismo que vinha sendo usado em larga escala (que eu gosto muito, mas sei que às vezes é chato) e explorava uma decoração simples, porém muito rica em detalhes. É como se em cada canto da casa a gente pudesse ver um pedaço de alguma história. Meu povo, essa casa é atemporal, daqui a cinquenta, cem, mil anos, ela ainda vai ser exemplo de coisa boa.
Pois é gente, vou ficando por aqui, espero que vocês tenham gostado da casa da Lina, assim, muitas outras virão pra gente dar uma curiada, ok?
– Lina, o diabo é essa tua mania de encher a casa com esses “boneco de pau” e esses “pedaço de pedra”.
– Rum, fica aí na tua ,Pietro…